domingo, 21 de fevereiro de 2010
No céu de Acari
as estrelas que se foram
centelhas
centenas:
o ouriço do mar
ostras caranguejo lagosta
algas
sempre-viva
todos os peixes e mais
mamíferos ou não
navios tesouros
os mortos
os sonhos
Netuno deus do segredo e da vaibe
desculpe-me o ofício de poeta
busco a lira
é preciso
necessário
me embale
a mim e meus companheiros
trancafiados
somos muitos
e acquosos.
Acari Sociedade Ilimitada
Fui a Acari, reunião com Deley, Walber, Christina; pela cooperativa, Ia, André e Fernando, eu e Mari. Acari do meu coração. Acari mães de Acari, Mc Betinho. Acari das bicas a céu aberto. Acari do melhor salgadinho. Acari de tudo mais. Acari é logo ali. Em Acari crianças e garotada jogam futebol. Em Acari o melhor sacolé da fruta a vera. Em Acari outro mundo, subjetividade, cada um de nós outra subjetividade, mundo mundico, mil detalhes, afetos outros que conectam olhos, bocas, cheiros. Em Acari tantos trabalham no Ceasa. Em Acari mil filmes, o gosto apurado. Acari das motocas, becos, armas. Em Acari hip hop, samba, Acari do funk no templo, Acari do Favo, a escola de samba que agora no grupo 2 e desfilamos na Intendente. Em Acari os vencedores não deixam de vencer mas lá somos muitos. Mortos, os que vão nascer, os nascidos, os mais velhos, gerações gerações em Acari são chamados para o banquete.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
É carnaval
Da minha varanda escuto muitas coisas porque é passagem para quem desce a escada do Selaron direção Lapa. Agora a pouco escutei: "Não sua boba, o Pão de açúcar é no Flamengo*".
Há quatro policiais plantados o dia inteiro num mesmo lugar, na esquina da rua, em frente aos fedorentos mictórios da prefeitura para o carnaval. Chega um camarada mijando num murão do palacete abandonado da igreja, um políça grita, "Ô Ô Ô, não tá vendo não onde é o mictório?". O grandão escuta os políça, mete pé ladeira abaixo, guardando o ouro, mais provável que descarrege no muro do convento das carmelitas. É um muro muito alto que dá numas janelas com grades e pregos terríveis para o lado de fora (alguém visitara uma noviça?).
Uma mulher, um pouco além da juventude, fecha o bar na mesma esquina, se dirige aos policiais: "Um de vocês me leve em casa". Os poliça se marrentam todos: "A senhora tá se achando especial?", "A senhora é igual a todo mundo", "A senhora bebeu até o bar fechar agora quer o quê?". A loura de nariz altivo e voz de porre: "duas vizzzzinhas jáááááá foram assaltadas, eu quero que vocês me leeeveeem na miiiinha porta, é ssssimplessssssss".
Daqui da varanda, esqueci os políça por um momento, achei que os caras eram amigos de bar, que a loura queria aproveitar o carnaval, as vozes masculinas joviais daqui da minha varanda, depois me caiu a ficha, não, são os poliça que eu tinha reparado quando saí para almoçar. "Se a senhora tivesse nos abordado de outra forma, tudo bem, mas a senhora é gente como todo mundo, o que a senhora tem de diferente?". A loura continuava como era esperado, como boa bêbada, como provocadora enfim. Os políça também em teatro um deles grita: "V-a-i e-m-b-o-r-a, A-D-E-U-S".
A mulher, blusa vermelha, pernas a vista, sem sucesso, segue o caminho dizendo "achei que vocês podiam me ajudar, ora".
São três as opções do ser humano em questão:
1) Lourona tava muito embriagada, caiu no insólito de pedir ajuda aos políça;
2) Lourona queria pegar um dos políça, tudo bem que eram gatinhos e mesmo que não fossem, perdem pontos ou ganham conforme o netuno de cada um, tudo bem, é carnaval.
3) Lourona era pura provocação como são os seres etílicos.
**Aliás, sobre a opção dois, vi muitos políça em Santa conversando com garotas, falando no celular, na pracinha, conversando com moças, enfim, é ainda carnaval.
* O Pão de acúcar fica no bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.
Há quatro policiais plantados o dia inteiro num mesmo lugar, na esquina da rua, em frente aos fedorentos mictórios da prefeitura para o carnaval. Chega um camarada mijando num murão do palacete abandonado da igreja, um políça grita, "Ô Ô Ô, não tá vendo não onde é o mictório?". O grandão escuta os políça, mete pé ladeira abaixo, guardando o ouro, mais provável que descarrege no muro do convento das carmelitas. É um muro muito alto que dá numas janelas com grades e pregos terríveis para o lado de fora (alguém visitara uma noviça?).
Uma mulher, um pouco além da juventude, fecha o bar na mesma esquina, se dirige aos policiais: "Um de vocês me leve em casa". Os poliça se marrentam todos: "A senhora tá se achando especial?", "A senhora é igual a todo mundo", "A senhora bebeu até o bar fechar agora quer o quê?". A loura de nariz altivo e voz de porre: "duas vizzzzinhas jáááááá foram assaltadas, eu quero que vocês me leeeveeem na miiiinha porta, é ssssimplessssssss".
Daqui da varanda, esqueci os políça por um momento, achei que os caras eram amigos de bar, que a loura queria aproveitar o carnaval, as vozes masculinas joviais daqui da minha varanda, depois me caiu a ficha, não, são os poliça que eu tinha reparado quando saí para almoçar. "Se a senhora tivesse nos abordado de outra forma, tudo bem, mas a senhora é gente como todo mundo, o que a senhora tem de diferente?". A loura continuava como era esperado, como boa bêbada, como provocadora enfim. Os políça também em teatro um deles grita: "V-a-i e-m-b-o-r-a, A-D-E-U-S".
A mulher, blusa vermelha, pernas a vista, sem sucesso, segue o caminho dizendo "achei que vocês podiam me ajudar, ora".
São três as opções do ser humano em questão:
1) Lourona tava muito embriagada, caiu no insólito de pedir ajuda aos políça;
2) Lourona queria pegar um dos políça, tudo bem que eram gatinhos e mesmo que não fossem, perdem pontos ou ganham conforme o netuno de cada um, tudo bem, é carnaval.
3) Lourona era pura provocação como são os seres etílicos.
**Aliás, sobre a opção dois, vi muitos políça em Santa conversando com garotas, falando no celular, na pracinha, conversando com moças, enfim, é ainda carnaval.
* O Pão de acúcar fica no bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Inventor do trabalho
Quarta-feira de cinzas, grito pelas ruas de Santa Teresa: acabou! acabou! As pessoas ensaiam aquele ar de domingo. É sacanagem eu me vingar assim mas foi o troco que pude dar ao carnaval branco de meu bairro. Ontem, na tve, passou na madruga um especial sobre o compositor baiano Batatinha, tão pungente como ele canta a canção Inventor do trabalho:
O tal que inventou o trabalho
O tal que inventou o trabalho
Só pode ter uma cabeça oca
Pra conceber tal idéia
Que coisa louca
O trabalho dá trabalho demais
E sem ele não se pode viver
Mas há tanta gente no mundo
Que trabalha sem nada obter
Somente pra comer
Contradigo o meu protesto
Com referência ao inventor
A ele cabe menos culpa
Por seu invento causar pavor
Dona Necessidade é senhora absoluta da minha situação
Trabalhar e batalhar por uma nota curta.
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