Um blog de poesia, arte e budismo engajado

quarta-feira, 23 de junho de 2010

este blog se mudou para http://cadernonetuniano.wordpress.com

quinta-feira, 29 de abril de 2010

um homem encontra Tirésias


em vão visão

olho do furaCão

coração?


em átomos som luz migalha

na curva torção

o vento
                           o vento

                                                                       quando
                 enxameamento?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

langue menor

na barquet prisio p nikiti-bumba
vi uma outra barquet com o nome netuno I
axei q hera mb pressag


pedro honorio
ler é difí
estudar é difc
escrever é mais+++ difícl


dricaf
gsto d escrever ms nao eh tranqilo


janice
tm os protocols


dricaf
vc é poet


pedro hono
a universidad é sso


dricaf
jerome eh françaes eh pesquisadr


pedro hono
eh outra experienci


patribirmaid
p vc chegar na cois é trbalh
pra ir alem da caretic

pedro honor
é incluir o conceito 
deleuse diz 
escrevinhar é reproduzr 
reproduzr é outra coisi 


mari
protocolo é o caralhao


dricaf
protocol é o caolh


janice
parecm smpre q vao descarregar 1 fzil


dricaf
eh iluson
luther king a mlcon x
e vc


alter-zero 
sou ms netuno
o cara da msica 
otras linguagns


dricaf 
dneuve presidnti

cacofonica

ágora escrever prx ao strool, blgado ao lad
mto bm
qq um pode imaginar +


pedro honório
o k conta de boom?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

hoje é dia de Jorge!

Salve São Jorge!
Salve Ogum!
Num Oriki (que é como um poema) de Ogum, o Camarada quando se banha é com sangue, daí a importância em botar para fortalecer o moço em todos nós, pro sangue ficar vermelho, um vermelho bem vivo que é uma coisa louca de espiritual. Vou a igreja acender vela e encontrar a cabeçada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Diário Perdido

Ontem foi um dia D. O dia D da Univer$al. Todos os acessos da cidade, av. Brasil, Amarela, Linha Vermelha, o túnel Rebouças, Santa Bárbara, Jardim Botânico, tudo tudo completamente cheio de onibus fretados pela Igreja Universal para o evento. Fui para o Pedro, que é em Botafogo mas não havia outra forma de conseguir senão usando uma coisa fundadora de tudo: os pés. Muito parecido com o filme Ensaio sobre a cegueira. As pessoas perdidas andando desde a Lagoa até a praia onde ia acontecer o evento. Em bando com placas em letras garrafais escritas S.Bernardo do Campo 3, Austin 2, Del Castilho 193, Japeri, São Gonçalo,  Caxias 23, Santa Cruz, Araruama e outros nomes que nunca ouvi falar. Mari disse que poderíamos fazer um mapa da periferia só com aqueles nomes. Os fiéis carregando seus filhos, em alguns ônibus e na rua, vi pessoas lanchando. São pessoas bem pobres e talvez nunca tenham estado por ali. Vi também duas mulheres com um cara, descerem com uma  churrasqueira bem avantajada (!), na pilha de descolar um trocado. Pessoas com banquinhos ou cadeiras de praia, garrafas de água para o show. Do céu, o barulho de helicópteros. As plaquinhas com os nomes das localidades ficavam em hastes de madeira ou similar, bem no alto, pras pessoas poderem ler, em letras chamativas, tentando não se perder.  Um guarda municipal ordena que circulem com os bus vazios, "Não pode ficar parado aí não, segue até o Leblon, Jardim Botânico, vai seguindo". Fui tentar pegar um ônibus na São Clemente, uma velhinha me pergunta sobre ônibus para o Leblon, olhávamos a via tomada de fretados. A cidade numa procissão de pentecostais e eu, branca e umbudista (umbanda com budismo), pequena burguesa, tão nada, tão bolha nessa cidade. Na Conde de Irajá, perto da Cobal, fiés agora de copo num bar gritavam de modo violento e zombateiro para os evangélicos que passavam na calçada "Aleluia, Aleluia". Eu encontrei Mari depois do Pedro para irmos a praia, mas era impossível circular e escurecia. "Vamos ao cinema ver algo!". Naquela hora dava pra ver Méres et filles (Mães e filhas),  traduzido por Diário perdido, com Catherine Deneuve e duas outras mulheres lindas, mas a coroa mais linda do cinema rouba a cena fazendo uma mãe bem rígida que trata a filha de um modo europeu que pra gente é bastante esquisito. Tudo bem que as nesgas também acabam revelando a intensidade da coisa, o quanto uma sufoca a outra, os afetos como atritos. É um filme no estilo francês, de diálogos e discussões, também com baldios e silêncio, além do mar que alinhava a estória. E eu digo, porque sou anarquista: Deneuve para presidente! 
Na volta, para pegar o metrô, os fiés ainda se organizam nas vias, então exaustos. Outrem diz em voz alta: "Se ao invés do Bispo Macedo fizessem uma quebradeira geral, imagina, ia ter que mudar!".
Eu prefiro, netunianamente: Deneuve presidente!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Comentários sobre desenho


O desenho abaixo foi feito com carvão nas cores preto e verde-musgo, em papel A4. Depois de deixar a mão solta rascunhando muito tempo em diferentes papéis, ou papéis que reciclo de textos universitários lidos e desinteressantes, eu fico nessa, tento tocar o tal espiritual da arte, aquele momento em que você vai desligando os botões, até chegar num estado de fruição. Ou pelo menos próximo a isso. É uma coisa de diminuir o cabeção, de descer com a coisa. É o que os budistas falam que é a parada. Sidarta Gautama, o Buda, queria se iluminar, ficou meses, anos embaixo de uma árvore insistindo. Já quando definhava, resolveu desistir: “Não sirvo pra isso não”, pensou. Ao se levantar para ir embora, teve sua primeira iluminação.
Vou postar outros desenhos feitos no mesmo clima.
Aché!

domingo, 18 de abril de 2010

sem título

Braseirinho da Glória

Na semana fui ao Braseirinho da Glória, na rua Candido Mendes, que é um desses típicos botecos cariocas, o balcão é em U, você come num banco alto. Mesmo acompanhada, fica de frente para outras pessoas, isso é muito agradável. Ver como se come, que pratos, as diferentes velocidades que cada um tem, as manias, se está esfomeado, se são gordos e comem pacas, magros e comem um pratão, isso tudo conta favorável ao Braseirinho.
Outro dia, um grupo de japoneses ria muito com a quantidade de comida que veio em seu Churrasco completo. Em cima do balcão, pra beber, puseram uma garrafa de guaraná Confiança.
No Braseirinho, frequentam homens que trabalham por ali, operadores da Oi, pedreiros, artistas, garotos de programa do clube 117, que fica um pouco acima na mesma rua, a pequena burguesia descobriu o Braseirinho, que antigamente era bem bafão. O melhor é que a comida não mudou.
Há dois garçons nordestinos e Antonio, que faz as vezes de gerente, mas não esqueceu sua posição de peão da coisa. A comida é deliciosa, dá pra ver os cozinheiros e cumprimentá-los, se ligam que é você, capricham no pedido. Há a clássica refeição, galeto com arroz de brócolis, fritas ou maionese (batata, cenoura, maionese), feijão, molho a campanha, farofa, por 11 reais. Esse prato dá pra dois, se não estiver com tanta fome. E ainda tem coca-cola em garrafa de vidro.
“Quedê a colega?”, perguntam, “Tô sozinha”. Em cinco minutos vem o prato de sempre, para forrar uma lingüiça de entrada, coisa dos deuses. É um lugar de muitos homens, aprazível de compartilhar, fingem que só há eles ali, mas é um fingimento assim assim. São homens fortes, conversando sobre alguma baboseira de futebol, sacaneam uns aos outros em torno de temas de viadagem. Outro dia ganhei uma lingüiça quase dupla, ficaram rindo depois que arregalei os olhos diante do prato. “Foi premiada”, diz o garçon. No momento seguinte, passam dois bofes, cumprimentam o mesmo garçon, “Tá sumido! Tava viajando?”. O garçon se derrama todo, apóia os braços no balcão, se despedem, meio gozação meio verdade, são assim as criaturas masculinas nesse país-labirinto.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Marcelo Grassmann em Angústia

Boa-noite Variado

Hoje fui a exposição de bordados da ilha do Ferro no Museu do Folclore, rua do Catete, ao lado do Museu da República. A exposição é pequena mas vale a pena, a delicadeza e lentidão daquilo tudo fez eu chegar em casa noiada, que vida é essa Franz Bibercopf? Que vida é essa Gautama? Para cada pedacinho de pano, precisam de quatro dias para aprontar. E os nomes são maravilhosos: bordado boa noite-simples, bordado boa-noite flor, boa-noite completo e boa noite-variado. Salve as bordadeiras e bordados de Alagoas.
Voltando do Catete com minha Flor, fiquei muito feliz porque o Choque de ordem dormia. Muitos camelôs com suas mercadorias espalhadas pela calçada fizeram nossa alegria. Compramos o livro Angústia, de Graciliano Ramos por dois reais e cinquenta centavos, prefácio de Otto Maria Carpeaux e ilustrações de Marcelo Grossmann, uma coisa de lindeza. Vou postar uma ilustração.
É muito alegre uma rua cheia de ambulantes embelezando a cidade.
Axé!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mindfulness

Deus e Oxum reunidos para a bagaceira
pensaram juntos: Chuva, muita chuva pra você nesse dia.
Dá medo, água é coisa sem forma, que ninguém pára.
Dá vício, o mundo imóvel, os políticos-mentirozim culpando os pobres que constroem na encosta, uma tromba d'água podia levar brasília e o resto da corja, mas isso é pouco budista. Coisa muito importante nesse pensamento é não cultivar o ressentimento, a tagarelice tola. Pensar que se a gente tiver mindfulness (plena consciência) de como é finito o tempo da nossa vida, a gente não vai ficar de bobeira. Assim, larga esse computador, vai para as ruas. Cuida de ti, dos amigos, praças, plantas, andorinhas, céu e chuva.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vida modesta

Na rua da Glória, chega num carro que mais parece uma ambulância, puto do serviço, um policial rechonchudo interpela mendigos desavisados no ronco da tarde: "federal, ô federal, vamo saindo, vamo se levantando". Pega o cacetete para agilizar a moçada, retorna ao carro, outros pms vão em direção aos três boas-vidas que começam a juntar as coisas para vazar dali. Lentamente. É o "Choque de ordem"...
Poucos minutos após, a ambulância dos policiais arranca, pára um pouco adiante. Os mendigos deitam novamente, fora da vista dos canas, lentamente.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

No céu de Acari


as estrelas que se foram

centelhas

centenas:

o ouriço do mar

ostras caranguejo lagosta

algas

sempre-viva

todos os peixes e mais

mamíferos ou não

navios tesouros

os mortos

os sonhos


Netuno deus do segredo e da vaibe

desculpe-me o ofício de poeta

busco a lira

é preciso

necessário

me embale

a mim e meus companheiros

trancafiados

somos muitos
 

e acquosos.

Acari Sociedade Ilimitada

Fui a Acari, reunião com Deley, Walber, Christina; pela cooperativa, Ia, André e Fernando, eu e Mari. Acari do meu coração. Acari mães de Acari, Mc Betinho. Acari das bicas a céu aberto. Acari do melhor salgadinho. Acari de tudo mais. Acari é logo ali. Em Acari crianças e garotada jogam futebol. Em Acari o melhor sacolé da fruta a vera. Em Acari outro mundo, subjetividade, cada um de nós outra subjetividade, mundo mundico, mil detalhes, afetos outros que conectam olhos, bocas, cheiros. Em Acari tantos trabalham no Ceasa. Em Acari mil filmes, o gosto apurado. Acari das motocas, becos, armas. Em Acari hip hop, samba, Acari do funk no templo, Acari do Favo, a escola de samba que agora no grupo 2 e desfilamos na Intendente. Em Acari os vencedores não deixam de vencer mas lá somos muitos. Mortos, os que vão nascer, os nascidos, os mais velhos, gerações gerações em Acari são chamados para o banquete.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

É carnaval

Da minha varanda escuto muitas coisas porque é passagem para quem desce a escada do Selaron direção Lapa. Agora a pouco escutei: "Não sua boba, o Pão de açúcar é no Flamengo*".
Há quatro policiais plantados o dia inteiro num mesmo lugar, na esquina da rua, em frente aos fedorentos mictórios da prefeitura para o carnaval. Chega um camarada mijando num murão do palacete abandonado da igreja, um políça grita, "Ô Ô Ô, não tá vendo não onde é o mictório?". O grandão escuta os políça, mete pé ladeira abaixo, guardando o ouro, mais provável que descarrege no muro do convento das carmelitas. É um muro muito alto que dá numas janelas com grades e pregos terríveis para o lado de fora (alguém visitara uma noviça?).
Uma mulher, um pouco além da juventude, fecha o bar na mesma esquina, se dirige aos policiais: "Um de vocês me leve em casa". Os poliça se marrentam todos: "A senhora tá se achando especial?", "A senhora é igual a todo mundo", "A senhora bebeu até o bar fechar agora quer o quê?". A loura de nariz altivo e voz de porre: "duas vizzzzinhas jáááááá foram assaltadas, eu quero que vocês me leeeveeem na miiiinha porta, é ssssimplessssssss".

Daqui da varanda, esqueci os políça por um momento, achei que os caras eram amigos de bar, que a loura queria aproveitar o carnaval, as vozes masculinas joviais daqui da minha varanda, depois me caiu a ficha, não, são os poliça que eu tinha reparado quando saí para almoçar. "Se a senhora tivesse nos abordado de outra forma, tudo bem, mas a senhora é gente como todo mundo, o que a senhora tem de diferente?". A loura continuava como era esperado, como boa bêbada, como provocadora enfim. Os políça também em teatro um deles grita: "V-a-i e-m-b-o-r-a, A-D-E-U-S".

A mulher, blusa vermelha, pernas a vista, sem sucesso, segue o caminho dizendo "achei que vocês podiam me ajudar, ora".

São três as opções do ser humano em questão:
1) Lourona tava muito embriagada, caiu no insólito de pedir ajuda aos políça;
2) Lourona queria pegar um dos políça, tudo bem que eram gatinhos e mesmo que não fossem, perdem pontos ou ganham conforme o netuno de cada um, tudo bem, é carnaval.
3) Lourona era pura provocação como são os seres etílicos.
**Aliás, sobre a opção dois, vi muitos políça em Santa conversando com garotas, falando no celular, na pracinha, conversando com moças, enfim, é ainda carnaval.
* O Pão de acúcar fica no bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Inventor do trabalho

Quarta-feira de cinzas, grito pelas ruas de Santa Teresa: acabou! acabou! As pessoas ensaiam aquele ar de domingo. É sacanagem eu me vingar assim mas foi o troco que pude dar ao carnaval branco de meu bairro. Ontem, na tve, passou na madruga um especial sobre o compositor baiano Batatinha, tão pungente como ele canta a canção Inventor do trabalho:

O tal que inventou o trabalho

Só pode ter uma cabeça oca
Pra conceber tal idéia
Que coisa louca
O trabalho dá trabalho demais
E sem ele não se pode viver

Mas há tanta gente no mundo
Que trabalha sem nada obter
Somente pra comer

Contradigo o meu protesto
Com referência ao inventor
A ele cabe menos culpa
Por seu invento causar pavor
Dona Necessidade é senhora absoluta da minha situação
Trabalhar e batalhar por uma nota curta.