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sábado, 20 de fevereiro de 2010

É carnaval

Da minha varanda escuto muitas coisas porque é passagem para quem desce a escada do Selaron direção Lapa. Agora a pouco escutei: "Não sua boba, o Pão de açúcar é no Flamengo*".
Há quatro policiais plantados o dia inteiro num mesmo lugar, na esquina da rua, em frente aos fedorentos mictórios da prefeitura para o carnaval. Chega um camarada mijando num murão do palacete abandonado da igreja, um políça grita, "Ô Ô Ô, não tá vendo não onde é o mictório?". O grandão escuta os políça, mete pé ladeira abaixo, guardando o ouro, mais provável que descarrege no muro do convento das carmelitas. É um muro muito alto que dá numas janelas com grades e pregos terríveis para o lado de fora (alguém visitara uma noviça?).
Uma mulher, um pouco além da juventude, fecha o bar na mesma esquina, se dirige aos policiais: "Um de vocês me leve em casa". Os poliça se marrentam todos: "A senhora tá se achando especial?", "A senhora é igual a todo mundo", "A senhora bebeu até o bar fechar agora quer o quê?". A loura de nariz altivo e voz de porre: "duas vizzzzinhas jáááááá foram assaltadas, eu quero que vocês me leeeveeem na miiiinha porta, é ssssimplessssssss".

Daqui da varanda, esqueci os políça por um momento, achei que os caras eram amigos de bar, que a loura queria aproveitar o carnaval, as vozes masculinas joviais daqui da minha varanda, depois me caiu a ficha, não, são os poliça que eu tinha reparado quando saí para almoçar. "Se a senhora tivesse nos abordado de outra forma, tudo bem, mas a senhora é gente como todo mundo, o que a senhora tem de diferente?". A loura continuava como era esperado, como boa bêbada, como provocadora enfim. Os políça também em teatro um deles grita: "V-a-i e-m-b-o-r-a, A-D-E-U-S".

A mulher, blusa vermelha, pernas a vista, sem sucesso, segue o caminho dizendo "achei que vocês podiam me ajudar, ora".

São três as opções do ser humano em questão:
1) Lourona tava muito embriagada, caiu no insólito de pedir ajuda aos políça;
2) Lourona queria pegar um dos políça, tudo bem que eram gatinhos e mesmo que não fossem, perdem pontos ou ganham conforme o netuno de cada um, tudo bem, é carnaval.
3) Lourona era pura provocação como são os seres etílicos.
**Aliás, sobre a opção dois, vi muitos políça em Santa conversando com garotas, falando no celular, na pracinha, conversando com moças, enfim, é ainda carnaval.
* O Pão de acúcar fica no bairro da Urca, cidade do Rio de Janeiro.

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